4 de novembro de 2014

Naquela noite, sei-o bem, era suposto ter ficado em casa.

Na altura era verão e as noites eram quentes e não me devia ter demorado a entrar no carro para que não tivesses o tempo de mostrares a intenção, ou façanha, de que me ias abrir a porta quando na verdade a intenção era encostares-me contra o carro e beijares-me de forma atrapalhada ou atrapalhada eu com a pastilha de mentol que tinha na boca. Cada vez que passo naquele parque, até porque já lá voltei muitas vezes, umas contigo outras sozinha e nunca feliz, viro a cara ao lado. Eu que um dia o marquei a tinta rosa como um sítio feliz onde voltar agora viro a cara ao lado e nem sou mais pessoa de marcar pastilha de mentol. Se na noite seguinte te tivesse descodificado como te sei agora, não haveria de ter saído de casa não saberia que a vodka que bebi não me entorpece tanto quanto os teus dedos, de toque forte, a contarem-me eles mesmos a história daquela vez que foste operado a uma hérnia discal, e usaste as minhas para vincar o espaço das tuas costas, onde mora essa pequena cicatriz. Uma que só tu vês porque para mim ela esteve sempre aí e havia de jurar que é marca de nascença porque para mim, em mim, naquela noite. É que ao fingires-te descuidado e despretensioso foste matreiro pois estavas bem consciente de que a cada dedo que me movias pela coluna, não eram só as minhas costas que haveriam de ser marcadas com as tuas impressões digitais.
E naquela noite, sei-o bem, era suposto ter ficado em casa.

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