19 de fevereiro de 2015

A note to you # 3

Esta manhã, enquanto evitava olhar o espelho de frente, lembrei-me de ti. De como me ensinaste a gostar dos meus sinais e cicatrizes, de como ao colo mos obrigaste a encarar de frente, a analisar ao espelho que agora evito. De como desenhavas corações entre as minhas sardas e me embrulhavas o cabelo nos dedos ao sol. Desapareceste e levaste contigo essa leveza que me deste. E a vida quebrou-me.  Amar quebrou-me. Fizerem-me acreditar que não valia a pena, que não sou suficiente. Ele quebrou-me, Eu cedi, estou quebrada. Perdoa-me. Ainda bem que não me podes ver agora, morreria de vergonha. Perdoa-me.

29 de novembro de 2014

A note to self #2

Nunca te senti desespero. Nem na iminência de me veres uma última vez olhar-te para o fundo dos olhos. Nunca te cheirei desespero. Nem na iminência de me tocares uma última vez. Já não te sinto. Não te reconheço aquele cheiro que se agarrava ao ar da sala e ficava lá a perfumar-me os dias. Nunca te senti desespero.
Não sei com que critério Deus me fez assim o coração. Talvez um dia a caixa de escuridão que me ofereceste me venha a ser ferramenta. Deus talvez tenha um plano, afinal. 
Amo-te com este coração que nem eu entendo, enquanto abraço incrédula o escuro que me deste.   

8 de novembro de 2014

A note to you #2

E depois lembro-me sempre, todos os segundos, daquele momento em que estávamos num lugar tão bom, em que me enchi de amor e otimismo e te pedi em casamento. E dos segundos que se seguiram, da tua cara de horror, do desprezo a agressão que se seguiram. Da tua recusa violenta, do teu corpo a contorcer-se e dos gritos a aumentarem. Já nem me lembro do que disseste, bem, lembro, mas o que não consigo esquecer foram os primeiros segundos. A tua cara de horror. O desprezo. Ficou demasiado claro para poder ser ignorado que nunca vais agarrar um momento e torná-lo eterno. Vais sempre recusar-me. Vais sempre colocar a tua cara de horror. Vou ter sempre o teu desprezo.